quarta-feira, 20 de abril de 2011

FMI e as reguadas

já há muito tempo que não havia comentários neste "Desalinhamento". ora é altura de recomeçar, sem censuras nem mordaças.

o País vive uma das maiores crises de que há memória, sendo os portugueses os únicos responsáveis por ela. nem nos meus maiores pesadelos pude imaginar que tudo desmoronaria, que é o que está a acontecer.

não vale a pena referir que a culpa é da crise: a crise existiu, mas apanhou Portugal numa situação macro-económica completamente irresponsável, que ao mais pequeno abanão daria origem à tragédia. o País duplicou em seis (!) anos apenas a sua dívida pública. tem uma dívida ao exterior brutal, quando em 1995 Portugal era credor em relação ao estrangeiro. deixem de culpar o Cavaco: ele deixou a governação com uma herança excelente, com as contas equilibradas. após o Cavaquismo, Portugal viveu uma das conjunturas mais favoráveis que houve no séc. XX: baixa do petróleo, baixa das taxas de juro, extinção do risco cambial (em relação com os maiores mercados com os quais temos trocas comerciais) devido à adesão ao Euro.

ora não há tempestade que sempre dure nem bonança que nunca acabe. a Espanha de Aznar soube-o, e estabeleceu a consolidação das suas contas, públicas, que mais não foi que usar os lucros que o estado tinha para baixar a dívida pública. em Portugal o Sr Guterres (eu prefiro chamar-lhe "Enterres" mas por delicadeza vou tratá-lo pelo seuapelido, já que não lhe posso tratar da saúde....) aproveitou os bons ventos para aumentar loucamente o peso do estado na economia, fazendo do estado uma verdadeira agência de emprego: havia boys, inventou-se jobs, logo houve jobs for the boys. a cereja no topo do bolo seria o abuso das PPP: o estado fazia a obra e pagaria aos pouquinhos. o conceito em si até poderá nem ser mau - Cavaco e Catroga usaram-no na resolução do problema da travessia do Tejo, Guterres não o usou: abusou! foi PPP para tudo e mais alguma coisa, foi subsidiar os combustíveis, foi construir auto-estradas do tipo "lá-vai-um" a torto e a direito.

com Guterres foi a loucura. tudo se comprou, todos se endividaram. e o Estado, porque já nessa altura era "porreiro pá" - lembrem-se que era a época do "diálogo" - esbanjou dinheiro por todos, construiu estádios a torto e a direito, semeou escolas de ensino superior por muitas aldeias, distribuiu subsídios até para a gasolina e o gasóleo, e por isso fomentou o consumo privado muito para lá do desejável, o que resultou no desequilíbrio nas relações comerciais com o exterior e no endividamento do nosso descontentamento.

alguns, à data, deram logo o sinal de aviso: a situação seria insustentável

para ajudar à festa apareceram uns senhores de olhos em bico a vender produtos muito mais baratos do que os portugueses, de qualidade idêntica, ou seja sofrível. mas em vez de sermos nós a exportar esses produtos, passámos nós a importá-los...

além disso, promoveu-se o investimento não só em obras públicas, como já referi, mas também em "comodities", isto é, na prestação de serviços ao abrigo da concorrência externa, assegurando desta forma melhor renda do investimento. quantas empresas não passaram, nessa época, de empresas fundamentalmente  industriais, do sector de bens transaccionáveis, para empresas de serviços, distribuição ou de telecomunicações? e Guterres a assistir....

foi a loucura. alguns, como eu, vimos logo que a factura a pagar seria pesadíssima. o deboche paga-se caro. confesso que nunca pensei que se pagasse tão caro.

depois veio Durão Barroso, em que o verdadeiro primeiro ministro foi Manuela Ferreira Leite, graças a Deus! tentou colocar alguma ordem na casa: congelou salários, disfarçou como pôde um défice crescente herdado de Guterres, na esperança de que um aumento do crescimento económico, a reboque do crescimento europeu, resolvesse o problema. era a solução correcta à data. hoje, dirão alguns, que esse governo foi pouco ambicioso. talvez tenham alguma razão, mas é fácil fazer o totobola à 2ª feira.....

Durão foi para a Comissão Europeia, numa clara vitória da política externa portuguesa. só que, como essa vitória era da direita, a esquerda não gostou e transformou essa vitória numa derrota: só em Portugal!!!!!

a partir daí veio o Grande Artista. armado em herói, disse que controlou o défice: é verdade, pois cortou na assistência à saúde para alimentar as empresas amigas do regime, aquelas que, por exemplo, lhe pagam os cafés com o Figo. cortou na educação para alimentar as construtoras.

e a economia, sim, aquilo que nos dá o pão nosso de cada dia, definhava. mas o pior de tudo é que tudo se aturou ao Grande Artista: ele foi Freeports, ele foi central de compostagem, ele foi Face Oculta, ele foi licenciatura ao domingo, etc. a lista é longa! é a lista da nossa desgraça

cabe ao eleitorado, numa democracia adulta e matura, fiscalizar a acção dos governantes. ora é inadmissível alguém suspeito de crimes de corrupção, por muito inocente que esteja, continuar-se no poder. simplesmente inadmissível, em democracia! a adicionar a isto, em Portugal foram mobilizados todos os meios mediáticos para perseguir quem ainda acreditava que uma democracia, para o ser, tem que ser transparente. há gente que sofreu: que o diga Manuela Moura Guedes

mas, para terminar, o material tem sempre razão: agora que já ninguém nos empresta dinheiro, porque não se empresta dinheiro a quem está falido, a verdade veio ao cimo.

e não é que o Grande Artista ainda tem mais de 30% de intenções de voto? só resta uma pergunta: como é possível haver tanto louco em Portugal?

o FMI deveria ter trazido uma boa e sólida régua de madeira, à moda antiga, para dar umas reguadas valentes em quem ainda vai votar no Grande Artista: é que esses não merecem qualquer outro tratamento!

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