sexta-feira, 18 de setembro de 2009

sobre o cheiro a arrequentado

Cheira a "arrequentado". no dicionário não vem esta palavra, mas desde pequeno que a oiço, significando que algo, geralmente um alimento, cheira a arrequentado por, devido ao passar do tempo, já estar fora do prazo, cheirar mal e não poder ser consumido em condições de higiene e segurança alimentar (palavras agora na moda, estas últimas). No entanto, com tanta "contratualização" e "deslocalização", permitam-me que também eu possa inventar palavras. Com tanta palavra já escrita, e ainda não tendo dito nada de jeito até agora, segui as recentes pisadas do Sr Presidente da República. Eu também digo: "Yes, I can", se quiserem.

Serve isto para introduzir o tema das sondagens. Dizem que o que conta é o voto nas urnas, que valem o que valem. Mais para uns do que para outros. Quando alguém está em grande nas sondagens, incha. Quando está em baixo, desincha as sondagens. É tudo uma questão de inchaço. O problema é que os médicos estão zangados com o governo.

No entanto, há quem governe por sondagens. Quando se está no poder e as sondagens começam a escurecer, toma-se uma medida popular, mesmo que desadequada, para voltar a subir nas intenções. É célebre aquela do Guterres de subsidiar a gasolina quando o petróleo aumentou. fez subir as sondagens, foi o seu momento "Porreiro, Pá". Por causa das sondagens, Correia de Campos foi demitido - por muito bom trabalho que (hipoteticamente) estivesse a realizar (eu, pessoalmente, não o acho), era uma menos-valia nas sondagens. Por isso foi substituído por uma Sra Dra que foi lá posta para isso mesmo: para não fazer mais do que fazer subir as sondagens. Nem precisa de governar, basta ser simpática e aparecer na televisão a falar sobre a gripe A. Quanto à saúde, o melhor é nem tentar fazer nada. Nem lhe mexer. O último que tinha tentado fazer alguma coisa, bem ou mal, acabou de se lixar. Lixar, que é como quem diz, foi para Bruxelas...

Os nossos políticos funcionam muito de "dentro para dentro". Independentemente do partido, quase todos vivem numa comunidade fechada, permitindo apenas alguma convivência com jornalistas, para lhes cuidarem da carreira e da imagem, e com empresários, para lhes cuidarem do seu bem estar e garantirem o emprego, não vá a coisa dar para o torto. E também porque, apesar de muitos políticos nem saberem comer à mesa, fica sempre bem um almocinho grátis num bom restaurante à beira Tejo pago por um "tio" qualquer. Faz bem à pança e ao ego, mesmo que não se saiba pegar no talher.

Devido a esse fechamento, toda a política é baseada na pequena intriga, na desinteressante questiúncula - não se sai disso. Só os políticos é que acham as sondagens importantes e moldam o seu discurso a elas. No entanto, elas são postas em circulação, e regra geral falham. E falham sempre para o mesmo lado, parecem o Olegário Benquerença a arbitrar o Sporting.

O cheiro a "arrequentado" provém do facto de, em tempos recentes e mesmo em cima das eleições europeias, ter aparecido uma sondagenzinha de uma empresa, liderada por esse sagrado reduto da "independência" e "isenção" chamado Rui Oliveira e Costa (até tenho vergonha do facto de o homem ser do Sporting), dando uma vantagem crescente ao PS mesmo em cima das urnas. Pois bem, como o Sr Rui Oliveira e Costa deve ter ficado escaldadíssimo com as Europeias, onde, mesmo antes das eleições, as intenções de voto no PS se destacavam da concorrência e, depois, o PSD ganhou destacado, agora foi a vez de a RTP e a Antena 1, empresas completamente "independentes" do poder político, nem eu me atreveria a pensar "outra coisa", aparecerem com uma sondagem, também a dizer que o PS já descolou do PSD, e que o BE está de pedra e cal no terceiro posto.

eu só pergunto: alguém acredita? se tiver dois dedos de testa, obviamente não!

Dizem que Sócrates e Ferreira Leite empataram no debate - neste País cheio de Olegários Benquerenças isto significa que Manuela Ferreira Leite deu baile. Sócrates ganhou ao Louçã, logo se o PS crescesse o BE teria que diminuir. O que não aparece nas sondagens. Nota-se, isso sim, é a acumulação do cansaço dos portugueses em remar contra a crise, que já se arrasta há quase 10 anos, neste estado de coisas, que é como quem diz "com este governo. Sem esperança de que, com estes políticos, a sorte mude. E isso só estimula a mudança. E "Change, we can" não é votar Sócrates, "as obvious".

Até Sócrates percebeu isto, quando disse que os ministros seriam todos novos - belo exemplo de liderança! Se Sócrates percebeu, não pode ser uma coisa assim tão difícil, pois não?

Não percebo como é que os senhores da RTP e Antena 1, cujos salários saem dos bolsos dos contribuintes, não se apercebem disto. Não querendo colocar em causa a isenção e seriedade dos nossos jornalistas, essa classe impoluta, só me resta concluir que eles também se fecham. No mesmo círculo dos políticos.

Disse.

PS: o meu editor de texto dá erro quando escrevo "Louçã". editor esperto! (LOL)

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