quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sobre os debates e os políticos

Os debates estão decididamente na moda. À hora que escrevo estas linhas, Manuela Ferreira Leite e Jerónimo de Sousa estão a debater na televisão. Há debates a toda a hora. Políticos contra políticos, jornalistas contra políticos, jornalistas contra jornalistas contra "politólogos". Por aqui se vê a qualidade destes debates - esta palavra não existe, devendo pronunciar-se "politicólogos". Debate-se em todo o lado. Na rua, nos jornais, na rádio. E, agora, sobretudo na televisão.
Depois há os estilos higiénicos das personagens que debatem. Os estilos que se crê melhor se adequam às personagens. E todas, dentro de cada grupo, procedem da mesma maneira, com ligeiras variações de estilo. Porque, no fundo, não querem debater, querem sim é exibir-se.
Os jornalistas, analistas, politicólogos e afins colocam sempre um ar de intelectualidade. Pensam-se eruditos. Mais agressivos ou mais polidos, mais sérios ou mais sorridentes, tentam sempre falar caro. E, regra geral, das suas bocas sai banalidade ou barbaridade. regra geral dizem o óbvio, muitas vezes distorcendo tendenciosamente a realidade. Muitas vezes, em vez de debater a política, querem é protagonizar a política. Para isso deveriam ter ido para políticos.
Quanto aos políticos. Imagem cuidada, négligé ou aprumada, põem um ar "popularucho", olhos nos espectadores, voz grossa e firme, e prevêem o futuro - convém é dizerem-me onde compram as suas bolas de cristal, para eu não cair na esparrela de as comprar nas mesmas lojas que eles. Dizem que vão fazer isto e vai acontecer aquilo, prometendo sempre o paraíso se mandarem. Se se fechar os olhos, todos falam da mesma maneira, se se tapar os ouvidos todos apontam o dedo da mesma maneira, com ligeiras variantes no gesto. Quando estão no poder, regra geral falham no que diz respeito à coisa pública (mas acertam no que diz respeito ao seu bolso), mas aí a culpa não é deles. Há sempre um governo anterior ou um factor externo, uma crise, por exemplo, que lhes deitou as contas abaixo, e a culpa, sempre a culpa, nunca é deles. A voz grossa e determinada mantém-se, assim como o discurso escorreito, bastas vezes com atentados contra a língua portuguesa, do estilo "há-dem ver", "contratualizar", "deslocalizar",etc., e procedem a interpretações rocambolescas por forma a justificarem a realidade, muitas vezes por eles recriada. O discurso, frequentemente sem cabeça, nem tronco nem membros, costuma ser vazio, ôco, mas é realizado num registo popular, bastas vezes pimba, abundando os slogans para a imprensa. Para isso deveriam ter ido para jornalistas.
A intersecção destes dois grupos chama-se António Marinho e Pinto. As suas limitações e rusticidade fazem-no sempre descambar para a asneira. Quer como jornalista quer como político. Não percamos mais tempo com ele.
Por fim, há Manuela Ferreira Leite que, graças a Deus, não se insere em nenhuma das classes acima referidas. Não aponta o dedo. Não olha para os espectadores, por não usar o milagroso teleponto. Analisa o passado à luz do que estudou e aprendeu, sem exames por fax, e, sem grandes optimismos, diz que ou se muda e se passa a trabalhar e a produzir, sem varinhas mágicas, ou o futuro será negro. O que é a mais absoluta verdade. Usa sempre o mesmo colar, herança de sua Mãe e aparece sempre penteada e vestida da mesma maneira. Voz fina, trémula e rouca. discursos bem escritos, estruturados e com conteúdo. Com princípio, meio e fim. Com verdade e competência.
Pois é, para os analistas "inteligentes" da nossa praça não serve. Porque não passa a mensagem. Porque ela exagera, porque o futuro não vai ser assim tão mau quanto ela diz (com os diabos, então os outros não prometem o paraíso?!?!?!), porque ela "falha" aqui e ali, sendo cada falha devidamente empolada pelo sistema - sempre o sistema!
Poderá falhar certamente. Porque quem faz as coisas seriamente por vezes falha. E super-homens existem só no cinema. Sócrates até é um grande actor, só que o cinema é ficção, e ficção não nos enche a despensa.
Oiço dizer desde pequenino: "todo o bom vigarista, pelo paleio ninguém o leva preso". Por isso aconselho: olhem mais para o que os políticos fizeram ao longo das suas vidas do que para o que eles dizem. Até porque o que eles dizem raramente se escreve, e nunca é cumprido. Especialmente o que dizem nos debates.
Por fim, se Manuela Ferreira Leite ganhar as eleições, o que sinceramente desejo, confrontem os jornalistas, analistas, politicólogos e afins com as afirmações que fizeram agora. Verão que o contorcionismo também abunda por esses lados, não é só nos políticos.
Até terça.

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